Ocorrida entre a Primeira e a Segunda Guerra mundiais, a Crise de 1929 foi um dos acontecimentos mais impactantes da História Contemporânea. Essa crise ocorreu nos meses de setembro e outubro de 1929, nos Estados Unidos, quando o valor das ações da Bolsa de Valores de Nova York (à qual a economia mundial estava integrada à época) despencou bruscamente, provocando a sua “quebra” (crash). A quebra da Bolsa de Nova York desencadeou, por sua vez, a Grande Depressão Americana, que durou até meados dos anos 1930.
O que ocasionou a crise?
A Crise de 1929 foi uma consequência da grande expansão de crédito por meio de oferta monetária (emissão de dinheiro e títulos) levada a cabo pelo Federal Reserve System (espécie de Banco Central dos EUA) desde os primeiros anos da década de 1920. No ano de 1929, essa expansão precisou ser freada pelo Governo, já que o ajuste de contas precisava ser feito. O Governo, então, parou de expandir a oferta monetária e começou a operar uma política de restrição de empréstimos. Temendo a desvalorização da moeda, muitas pessoas e empresas retiraram suas reservas dos bancos, dando início a um processo de recessão.
A medida de expansão de crédito tornava as taxas de juros artificiais, sem lastro com as reservas de crédito reais, que eram ancoradas na poupança. Os investidores que tinham ações na Bolsa de Valores de Nova Iorque recebiam um sinal falso da expansão de crédito e, consequentemente, acabavam por ampliar os seus negócios, aumentar salários, e investir ainda mais. Este processo gerou uma “bolha inflacionária”, pois, em 1929, chegou um momento em que não se podia mais esconder o caráter artificial da expansão econômica: havia muito dinheiro emitido circulando, mas sem valor real com a produção. Já sob o governo Hoover, a Bolsa de Valores de Nova Iorque, responsável pela administração dos investimentos aplicados e do crédito emitido, entrou em colapso.
As principais consequências da Crise de 1929 foram o desemprego em massa, a falência de várias empresas, tanto do setor industrial quanto do setor agrícola, e a pobreza, que assolou grande parte da população americana. Muitos países que estavam atrelados ao sistema de crédito americano também sofreram uma grande recessão em suas economias. O Brasil, por exemplo, teve que queimar café, principal produto da época, para poder valorizar o seu preço.
Quinta e terça “negras”
As soluções para a crise foram aplicadas, principalmente, por F. Delano Roosevelt e sua política do New Deal (Novo Acordo), que procurou replanejar a economia americana."Quinta e terça “negras” A solução mais saudável para esse problema seria o Governo controlar a recessão, permitindo a liberdade de preços e salários, até que o mercado se adequasse à nova situação. No entanto, ao contrário disso, o Governo passou a exercer arrochado controle sobre os preços e os salários, além de promover aumento de impostos. Isso agravou a recessão e, em 24 de outubro de 1929, houve a chamada “quinta-feira negra”, caracterizada pela queda vertical das ações por falta de compradores. Alguns dias depois, em 29 de outubro, ocorreu a “terça-feira negra”, quando vários e vários lotes de títulos foram colocados à venda na Bolsa de Nova York, em um último gesto desesperado, sem atrair, entretanto, compradores. Ações de bancos e empresas ficaram completamente desvalorizadas, o que provocou a falência deles e o consequente desemprego de cerca de 12 milhões de americanos.
Explicação para a crise a partir do “boom” de oferta de crédito
Falamos acima que o que provocou a “Crise de 1929” foi a expansão (ou o boom) de crédito, feita pelo Federal Reserve System, durante os anos 1920. Pois bem, para explicar melhor a relação entre esse tipo de ação financeira e o colapso da economia, destacamos um trecho da obra A grande depressão americana, do economista Murray Rothbard.
O boom [...] é na verdade um período de investimento ruinosamente equivocado. É o momento em que os erros são cometidos, por causa da interferência do crédito bancário no livre mercado. A “crise” chega quando os consumidores vêm restabelecer as proporções que desejam. A depressão é na verdade o processo por meio do qual a economia se ajusta após os desperdícios e equívocos do boom, e restabelece o serviço eficiente dos desejos do consumidor. 1
[…] a expansão de crédito bancário principia o ciclo econômico em todas as seus fases: o boom inflacionário, marcado pela expansão da oferta de dinheiro e por mal investimentos; a crise, que chega quando a expansão do crédito termina e os mal investimentos tornam-se evidentes; e a recuperação depressiva, o processo necessário de ajuste por meio do qual a economia retoma as maneiras mais eficientes de satisfazer os desejos dos consumidores. 2
Essa necessidade de retorno à “normalidade” dos ciclos econômicos é o que provoca as crises, segundo Rothbard. A Crise de 1929 foi tão catastrófica porque o Governo americano não respeitou o momento de reajustar a economia, dando vazão à dinâmica própria do livre mercado, mas, ao contrário, interferiu ainda mais nessa dinâmica.
Consequências
Ações de bancos e empresas ficaram completamente desvalorizadas, provocando falência, tanto no setor industrial quanto no setor agrícola; e desemprego generalizados. A pobreza passou a assolar grande parte da população estadunidense.
Internacionalmente, os países que estavam atrelados ao sistema de crédito norte-americano também foram atingidos e sofreram uma grande recessão. No caso do Brasil, a redução da exportação de café foi um dos principais efeitos, a qual resultou na limitação da entrada de dividendos e reduziu a capacidade de importações do país. Para superar esse cenário negativo, o governo brasileiro – na época com Getúlio Vargas na presidência (1930-1945) – além de realizar a famosa compra e queima do café excedente para ajudar os produtores, adotou medidas protecionistas com o intuito de incentivar a indústria nacional e alinhar a produção agrária a esses interesses. Assim, foi necessário diversificar a indústria nacional para abastecer o mercado interno, causando assim uma inflexão no modelo importador até então vigente para uma nova matriz nacional de produção e consumo, além de aumentar entrada de capital nas indústrias do país. Tais ações fizeram a indústria brasileira crescer 11,2% entre 1933-1939 dissipando, assim, os efeitos da crise no país.
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