domingo, 11 de junho de 2023

CONSEQUÊNCIAS DA I GUERRA MUNDIAL: A GRIPE ESPANHOLA 1918-1919

 


 

 


Quais as semelhanças entre a Gripe Espanhola e o Coronavírus?

Existem inúmeras semelhanças entre a pandemia de Gripe ocorrida no início do século XX e a situação que estamos enfrentando atualmente, apesar dos 100 anos que as separam. Mas para entendermos essas similaridades, é preciso lembrar o que foi aquele surto. A pandemia ocorrida em 1918 e 1919, conhecida como “Influenza Hespanhola”, tem sido considerada uma das mais devastadoras e letais da história. Esta enfermidade alastrou-se por todas as regiões do planeta e deixou o maior número de infectados e mortos, se comparada com as pandemias ocorridas até então. Ela teria vitimado 20 milhões de pessoas em todo o mundo (mas alguns estudiosos falam em 50 milhões de mortos). Em relação ao número de doentes, as dificuldades para o cálculo são ainda maiores e os números, mais assustadores: supõe-se que teriam adoecido pelo menos 600 milhões de pessoas. Existem várias teorias sobre a origem daquela pandemia. O certo é que ela foi propagada, e talvez gerada, pela queda dos padrões sanitários e pelos efeitos da escassez alimentar decorrentes da Primeira Guerra Mundial (conflito bélico ocorrido entre 1914 e 1918). Como consequência dessa situação calamitosa, a pandemia de gripe deixou, em alguns meses, um número significativo de mortos porque nos quatro anos de guerra o mundo teve o número total de baixas militares e civis na Primeira Guerra Mundial de cerca de 40 milhões: as estimativas variam de cerca de 15 a 22 milhões de mortes e cerca de 23 milhões de militares feridos, classificando-a entre os conflitos mais mortíferos da história da humanidade.  

 

Era espanhola?

 As origens da epidemia provavelmente não têm nada a ver com a Espanha. Mas então, por que persiste esta denominação? Sem dúvida se deve ao segredo militar em torno à saúde dos soldados durante a Primeira Guerra Mundial, e por isso os jornais dos países beligerantes não podiam falar que havia uma epidemia que dizimava suas tropas. Por outro lado, a imprensa podia escrever sem filtro sobre a gripe que afetava a Espanha, um país neutro onde não havia censura. A denominação dada ao surto de 1918 vem do fato de que na Espanha não era segredo os estragos feitos pela gripe. As notícias sobre a pandemia eram publicadas livremente pelos jornais, o que dava a impressão de que lá havia muito mais doentes do que em outras regiões. Outros países preferiram suavizar o impacto causado pela enfermidade ou até mesmo censurar a imprensa a respeito do assunto. A ideia de esconder os estragos da epidemia foi defendida inclusive por instituições de prestígio como a Royal Academy of Medicine de Londres.  “Espanhola” foi a denominação que chegou ao Brasil. Mas na verdade, esta enfermidade acabou recebendo inúmeros nomes diferentes. Os países afetados atribuíam uns aos outros a culpabilidade pela doença. Na Rússia, a doença recebeu o nome de Febre Siberiana; na Sibéria, Febre Chinesa; na França, Catarro Espanhol ou Peste da Senhora Espanhola; na Espanha, foi batizada com o nome de Febre Russa… 

Onde surgiu a gripe espanhola?

Infelizmente, os historiadores e os cientistas não possuem informações suficientes que lhes permitam apontar o local exato do surgimento dessa doença. Ainda assim, existem algumas teorias a respeito dos prováveis locais nos quais a gripe espanhola possa ter surgido: Estados Unidos, China e Reino Unido.A teoria mais aceita pelos estudiosos do assunto é de que a gripe espanhola teria surgido em campos de treinamento militar nos Estados Unidos. Isso porque os primeiros casos da doença também foram registrados lá. Esses casos aconteceram em trabalhadores de uma fábrica em Detroit e em soldados instalados em um campo militar no estado do Kansas.Outro elemento que reforça que a gripe espanhola surgiu nos Estados Unidos é que ela se difundiu pela Europa logo depois que soldados norte-americanos foram enviados para a frente de guerra nesse continente. Assim, o contato de soldados contaminados com pessoas nos mais variados locais permitiu o alastramento da doença pelo continente europeu, principalmente nas frentes de guerra;

 Vírus

O vírus da gripe que deu origem a esta pandemia é do tipo A(H1N1), assim como o agente responsável da macroepidemia de gripe de 2009 (que deixou 18.500 mortos segundo balanço oficial da OMS e cerca de 200.000 mortos segundo duas estimações posteriores). Estima-se que todos os vírus da gripe tipo A que circulam hoje entre os humanos são descendentes diretos ou indiretos da cepa do vírus de 1918, mas em uma versão menos virulenta. Rapidamente, a doença expandiu-se pelo mundo. Provavelmente a rapidez com que se alastrou, em 1918 e no ano seguinte, deveu-se aos deslocamentos e contatos de grandes contingentes de tropas naquele período, devido à guerra e a volta desses soldados para seus países de origem. Mas também, pelo fato do vírus ser altamente transmissível. Na época, não faltavam notícias dizendo que a doença havia sido uma criação dos alemães. 

 

Muita gente acreditava que a moléstia era engarrafada na Alemanha e depois distribuída por seus submarinos, que se encarregavam de espalhar as ditas garrafas perto das costas dos países inimigos. Apanhadas nas praias por gente inocente, espalhava-se assim aquela terrível enfermidade. A comunidade médica daquele período não conseguiu explicar como uma moléstia branda e tão familiar pudesse estar matando tanto. Desconhecia-se seu agente causador e a forma de contágio (as certezas a respeito de como a gripe é transmitida só vieram à tona na década de 1930). Assim, os médicos puderam fazer pouco para salvar a vida dos doentes. Tudo era feito na base da experimentação. Um dos remédios utilizados na tentativa de evitar a doença ou curar os doentes foi o quinino (medicamento utilizado originalmente para o combate da malária). Houve uma corrida às farmácias em busca desta substância, seu preço aumentou assustadoramente e o produto acabou se esgotando (situação parecida está sendo vivida atualmente em relação à busca por álcool gel e por máscaras, produtos que não são mais encontrados no comércio). Considerada até aquele momento uma doença comum e corriqueira, que atacava especialmente idosos (chamada na época popularmente de “limpa-velhos”), a pandemia de 1918 acabou alterando a idade da população afetada. Morreram principalmente homens adultos, entre 20 e 40 anos (pessoas em idade de participarem do mundo do trabalho), o que causou surpresa entre a classe médica. As vítimas provavelmente precisavam sair de casa para trabalhar, e acabavam assim sendo infectadas.

 Difusão da doença

A pesquisadora Christiane Maria Cruz de Sousa afirma que a gripe espanhola se espalhou em três ondas de contágio, entre março de 1918 e maio de 1919. Entre essas ondas, a segunda, iniciada em agosto de 1918, foi a pior delas, pois foi a mais contagiosa, causando a morte de milhões de pessoas. Já em abril de 1918, as tropas britânicas e francesas registravam os primeiros contaminados pela gripe espanhola e, nos meses seguintes, uma série de países europeus apresentou seus primeiros casos da doença: Grécia, Espanha, Dinamarca, etc. Na segunda onda da doença, que aconteceu entre agosto e dezembro de 1918, Ásia, África, América Central e do Sul foram afetados.

A segunda onda de difusão da gripe espanhola tornou a situação alarmante em diversas partes do planeta porque a quantidade de infectados disparou e os sintomas registrados tornaram-se muito graves, o que contribuiu para que a taxa de mortalidade aumentasse bastante. Aqueles que ficavam doentes apresentavam febre, dor no corpo, coriza, tosse, entre outros sintomas. Nos casos mais graves, os pacientes apresentavam graves problemas respiratórios, dificuldade para respirar e, até mesmo, problemas digestivos e cardiovasculares. Foram registradas também pessoas que se recuperaram da doença, mas contraíram de novo com sintomas agravados. Os médicos procuravam tratar os pacientes da forma que fosse possível, mas o conhecimento médico na época ainda era muito limitado.

 Os médicos e cientistas do período não sabiam o que causava a doença, pois os microscópios não tinham capacidade de enxergar o vírus causador da gripe espanhola. Os microscópios conseguiam observar apenas bactérias, micro-organismos maiores que um vírus. Alguns locais não tomaram as medidas de prevenção necessárias para combater a gripe espanhola e o resultado foi catastrófico. Um caso muito conhecido é Filadélfia, cidade na costa leste dos Estados Unidos que se recusou a seguir as indicações dos especialistas de evitar aglomerações. Nessa cidade, em setembro de 1918, um desfile dos soldados que estavam sendo enviados para a Primeira Guerra Mundial foi realizado e mobilizou cerca de 200 mil pessoas nas ruas. O resultado foi a disseminação da doença de maneira violenta e a morte de cerca de 16 mil pessoas em um período de aproximadamente seis meses. Em mais de um ano de pandemia, estima-se que a gripe espanhola tenha causado a morte de cerca de 50 milhões de pessoas. Algumas estimativas mais alarmistas apontam que esse número possa ter chegado até o total de 100 milhões de mortos. Acredita-se que 1/3 da população mundial tenha sido afetada. Poucas regiões do mundo escaparam da pandemia. A Austrália foi um dos países menos afetados graças a uma política estrita de quarentena.A criação, em 1922, do Comitê de Saúde e da Organização de Higiene, antepassadas da Organização Mundial da Saúde (OMS), respondeu em parte a uma vontade de combater melhor este tipo de pragas.

 

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